segunda-feira, 7 de março de 2011

A felicidade é uma ilusão.

Meu nome é Amanda. Significa digna de ser amada. Não tive muito tempo de ser amada pelos meus pais, pois ambos morreram em um acidente de carro quando eu tinha apenas dois anos. Meus avós maternos me adotaram após o falecimento de meus pais e eu comecei a morar com eles no interior de São Paulo a partir de então.
            Não sei se por causa da idade ou se era mesmo o jeito deles, eles eram carrancudos e impacientes comigo desde quando eu me entendo por gente.
            Apesar de ter herdado uma fortuna de meus pais, meus avós maternos me matricularam em colégios estaduais a vida inteira. Eles diziam que eram para poupar a herança para algo mais importante. Ora, o que há de ser mais importante que a educação de uma pessoa?
 Foi no colégio que conheci Bruno. Por acaso, Bruno era meu vizinho, mas só o conheci quando comecei a freqüentar a escola, quando eu tinha seis anos de idade. Desde quando nos conhecemos, viramos melhores amigos. Logo os coleguinhas de classe começaram a zombar de nossa amizade.
            - Olha os dois namoradinhos. Só falta dar beijinhos.
            Eu não me incomodava com as brincadeiras. Bruno queria bater em todos que falassem isso.
            Eu e Bruno crescemos juntos. Bem antes da adolescência, eu já sentia algo diferente por Bruno, mas foi na adolescência que esse sentimento se tornou mais forte.
            Um certo dia, eu estava embaixo de uma macieira, com uma faca na mão, descascando uma maçã para come-la. Olhei para o tronco da árvore e tive uma idéia maluca de escrever o meu nome e o nome de Bruno dentro de um coração, para gravar o meu amor por ele na árvore. Usei a faca para gravar nossos nomes no tronco da macieira. Quando estava finalmente acabando, ouvi um barulho.
            -BUU!
            - Ai, que susto, Bruno.
            - O que a senhora está fazendo?
            -Eu? Nada.
Tentei esconder com a mão o que escrevi na árvore, mas Bruno foi mais forte e tirou minha mão da frente da gravura e viu nossos nomes dentro de um coração inacabado. Quando Bruno viu aquilo, ele ficou pasmo. Ficamos nos olhando durante um tempo. Quanto tempo ficamos nos olhando, eu não sei, mas foi o suficiente para sentir meu coração disparar e passar mil pensamentos na minha cabeça.
Ele pegou na minha mão e disse:
-Vamos embora. Sua avó está a sua procura.
E voltamos para casa de meus avós de mãos dadas. Na frente da porta da casa de meus avós, fui me despedir dele, ele se aproximou de mim e me beijou os lábios, disse que me amava e me desejou uma boa noite. Foi um dos momentos mais felizes de minha vida. Deve ter durado dois minutos, até minha avó gritar da janela:
-Menina, entre agora para casa.
Entrei e escutei um sermão da velha.
-Você fica a namorar aquele pobre menino sem futuro, que só está de olho em sua fortuna. Deixe de ser boba. Você há de encontrar outro rapaz que seja digno do seu amor e você será digna de ser amada por ele.
A minha avó me disse mais um bocado de coisas que eu não me lembro agora. Depois que ela terminou, pedi permissão para ir dormir em meu quarto. Ela fez um barulho confirmando a sua permissão e fui dormir.
A partir daquele dia, eu e Bruno começamos a namorar escondido de meus avós, pois não tinha a aprovação deles. Bruno foi meu único e eterno namorado. Estudávamos juntos todas as tardes para passar no vestibular. Bruno era muito inteligente e me ensinou muitas coisas. Nessa época, tínhamos dezessete anos. Ambos passamos na Universidade de São Paulo, a conhecida, USP. Eu passei para medicina e ele para Ciências Econômicas. Fui morar em uma republica dentro da própria USP e ele fez o mesmo.
Formamos-nos e logo começamos a trabalhar. Após formados, eu comprei uma casa com o dinheiro de meus pais no bairro da Liberdade. Bruno veio morar comigo e seis meses depois, nos casamos, em 1997. Ambos tínhamos 25 anos. Em 1999, nasceu minha filha, Bárbara. Quando a vi, foi um dos poucos momentos mais felizes de minha vida. Mirei-a durante dois minutos e depois a levaram de mim.
 Fiquei um ano sem trabalhar, só cuidando de Bárbara e depois contratei uma babá, Isabela, para cuidar do meu bebê.  
Isabela era uma moça bonita. Morena, olhos verdes, cabelos longos e lisos. Era uma doçura de pessoa. Ela dormia em um quartinho que havia nos fundos da casa. Isso era preciso, pois, muitas vezes, eu tinha que dar plantões noturnos e não podia ficar com Bárbara durante a noite.
Meu casamento com Bruno era perfeito. Ele era um homem amoroso, paciente, dedicado. Uma das únicas vezes que a gente brigou foi quando ele reclamou que eu trabalhava demais e não dava muita atenção para minha filha e muito menos para ele. Eu dizia que eram ossos do ofício.
Em setembro de 2001, Bruno viajou para os Estados Unidos devido a alguns negócios de seu trabalho. Dia dez de dezembro, ele me ligou para dizer que no dia seguinte iria ao World Trade Center com dois parceiros de trabalho, em Nova Iorque, Também me disse que a cidade era linda, agitada, moderna. Antes de desligar, disse-me mais que sentia a minha falta.
No dia seguinte, quem diria, houve o atentado contra as torres gêmeas. Quando fiquei sabendo, liguei para o hotel onde meu marido estava hospedado, na esperança de que ele não fora ao World Trade Center. Falei com Felipe, um dos sócios de meu marido que me dissera que estava doente e não pode ir lá, mas que meu marido e o outro sócio fora. Quando ele me disse isso me desabei a chorar. Entrei em desespero atrás de noticias de Bruno por meses, mas não houve nenhuma. Nem o corpo de Bruno foi encontrado. Por isso, não pude dar um enterro digno para ele.
Bárbara perguntava sempre pelo pai e eu dizia que ele estava viajando. Meus avós me aconselharam a dizer isso até que ela completasse anos suficientes para entender que o pai morrera.
No final do mesmo mês de setembro de 2001, eu fui diagnosticada com pneumonia e fui parar a no hospital. Foi quando eu descobri que pegara o vírus HIV. Quando os médicos me disseram meu quadro clínico, mal pude acreditar. Bruno fora o único homem de minha vida. Como peguei o vírus?
Liguei para irmã de Bruno e lhe contei a situação e pedi para que ficassem com Bárbara enquanto eu estava no hospital. Dispensei Isabela, que foi aos prantos no outro dia me visitar.
-É tudo culpa minha, Dona Amanda, é tudo culpa minha da senhora estar doente. Eu também estou. Passei o vírus para a senhora. A senhora, por favor, me perdoe.
Eu não entendi nada daquilo, mas disse que a perdoava. O que passou primeiramente na minha cabeça foi que a criatura pensava que o vírus se passava pelo ar.
Fiquei no hospital tempo suficiente para meditar sobre alguns fatos.
A primeira delas foi que finalmente entendi o porquê de Isabela pedir meu perdão. Ironicamente veio o significado do meu nome na minha cabeça e indaguei-me mentalmente:
-Será que Bruno realmente me amou algum dia? Quem ama não trai, ou trai?
A segunda foi uma frase já feita na minha cabeça, que apareceu do nada.
“A felicidade é uma ilusão”
Ela não passa de alguns momentos que você vive na vida. Momentos curtos, que simplesmente passam na sua vida como brisas em um dia de verão.
De acordo com o dicionário, ilusão significa:
1 Engano. 2 O que dura pouco. 3 Percepção distorcida de um objeto. 4 sonho.
Eis tudo o que foi o meu relacionamento com Bruno, desde o começo até o fim.
Quando Bruno dizia que me amava, eu estava sendo iludida, era um engano tudo aquilo.
Os poucos momentos que relatei de felicidade na minha vida duraram poucos minutos.
O Objeto que foi teve a percepção distorcida fora o amor de Bruno, que agora tenho que concordar com minha velha avó, era apenas interesse no meu dinheiro. Não era amor de verdade, motivo já escrito do porquê não fora real.
Sonho foi todo o meu relacionamento com Bruno, desde o começo. Nosso casamento fora perfeito. Foi tudo um lindo sonho. Sonho lindo que se foi...
Enfim, apesar do meu primeiro e único amor ter me traído com a babá, eu jamais deixei de amá-lo, porque apesar de tudo, os melhores e mais felizes momentos da minha vida foram vividos com ele.
Definitivamente, a felicidade é uma ilusão

Por Jéssica.
  

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