quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pesadelo sangrento

Ela deu sinal para o ônibus parar. O ônibus parou. Era o mesmo ônibus que ela pegava todos os dias. O motorista e o cobrador já a conheciam. Ela subiu as escadas do ônibus, desejou boa noite ao motorista que retribuiu com um olhar e um sorriso. Deu mais sete passos até chegar à catraca. Desejou boa noite ao cobrador que retribuiu animado.
-Boa noite, Dona Jaqueline!
 Ela deu a ele o dinheiro da passagem, atravessou pela catraca e sentou-se na primeira poltrona que viu vaga. Já eram nove da noite. Estava frio. Ela ficou observando a rua, os carros em movimento, os pedestres caminhando para direções que ela não sabia.
Foi um dia longo de trabalho. Ela sentia seus olhos pesados e lutou para que eles não se fechassem, mas no fim o sono ganhou e ela adormeceu.
Quando se deu conta, ela estava em casa. O telefone tocou e ela atendeu. Era William dizendo que estava a caminho da casa dela. Em um relance, ele já estava na casa dela, sentado no sofá. Ela perguntou para ele se ele queria algo para beber. Ele disse que queria vodca com gelo e limão. 
Enquanto estava na cozinha, preparando a bebida, abriu uma gaveta e encontrou um revolver. Pegou a arma, colocou no bolso de sua jaqueta e foi até a sala, levando a bebida que ele pediu. 
Tudo estava muito estranho e nada fazia muito sentido naquilo tudo. Ele estava com um sorriso irônico nos lábios. Ele falou sobre ir morar na Jamaica e fazer uma plantação de maconha e fuma-la em paz. Curtir a vida, pois ela era muito curta para se preocupar com as coisas que o capitalismo impõem para a sociedade. E ela falava de suas tristezas mais profundas, de como a multidão de pessoas a fazia se sentir sozinha. De como ela sentia uma estranha raiva que logo se tornava em tristeza. Vontade de morrer. Vontade de matar. 
Ela se viu em pé, apontando a arma para William. Ele continuou com o sorriso irônico nos lábios.
Ela dizia coisas sem nexo. Namoro fracassado, ilusão, você nunca me amou, caminhar de mão juntas, não alcanço a felicidade que mereço.Insonia. Algodão doce, palhaços, fracassos... E começou a chorar enquanto falava.
O sorriso irônico desapareceu dos lábios de William. Ele se levantou do sofá para ir em direção a porta. Ela o empurrou de novo para o sofá. Ele olhou bem no fundo dos olhos dela e disse: 
-Eu te amei como ninguém jamais irá te amar, mas hoje em dia, se existe alguém que eu não suporto, essa pessoa é você. 
Assim que ele terminou a frase, Jaqueline apertou o gatilho da arma. William começou a sangrar. Jaqueline jogou a arma no chão, perto do sofá e virou de costas para ele.
-Ei, Jaqueline! 
Ela se virou e viu William sangrando com a arma na mão. Ouviu o disparo. Caiu no chão sangrando. Não sentia dor. Pela primeira vez não sentia nada. Nem angustias, nem dor, nem tristeza, nem alegria. Não sentia emoção nenhuma. Para qualquer lugar que olhasse, ela só via sangue. Ela fechou os olhos e tudo ficou escuro.
De longe, ela começou a ouvir uma voz.
-Moça! Moça! Moça! 
Quando abriu os olhos estava sentada dentro do ônibus em movimento. O cobrador olhava para ela e disse:
-Seu ponto é o próximo.A senhora está bem? Parece estar assustada. Teve um pesadelo, foi?
Jaqueline realmente estava com os olhos arregalados e sentiu um grande alivio quando percebeu que aquilo era apenas um sonho.
-Estou bem, obrigada.
O ônibus parou e ela desceu do ônibus e foi andando até sua casa. Aquele frio era de cortar a pele. Enquanto caminhava, ela foi pensando sobre o sonho que teve, Foi tão real. 
Quando chegou em casa, abriu a bolsa e pegou a chave da porta. Abriu a porta. Quando olhou para o chão tinha uma carta para ela. Era de William. Abriu o envelope e só havia uma frase escrita na folha.
"Eu te amei como ninguém jamais irá te amar, mas hoje em dia, se existe alguém que eu não suporto, essa pessoa é você."
Amassou o papel e jogou no lixo. Ela foi para o quarto se deitar e ficou pensando que muitas pessoas  sabem como é se sentir amada, inclusive ela. Entretanto, poucas devem saber como é o sentimento de ser odiada e ela era uma dessas pessoas. Logo ela que não tinha sentimentos maus por ninguém. E começou a cantar bem baixinho uma musica de John Lennon.

"Imagine all the people Living life in peace.
You may say I'm dreamer 
But I'm not the only one.
I hope some day you'll join us
And the world will be as one."

Nenhum sentimento mau veio a cabeça dela nunca mais na vida dela. E aqueles que a desejavam mal, ela desejava o bem em dobro. 
Paz!

Por Jéssica

Nenhum comentário:

Postar um comentário